
A adesão ao modelo de Sociedade Anônima do Futebol (SAF) vem crescendo no Brasil, com mais de 100 clubes já formalizados nessa nova estrutura. Apesar do avanço, especialistas advertem que a SAF não é um caminho obrigatório — e muito menos adequado para todos os perfis de clubes.
Heloisa Rios, CEO da Universidade do Futebol, afirma que transformar um clube em SAF exige uma análise estratégica profunda, e não deve ser encarado como solução milagrosa para problemas financeiros. Segundo ela, “a SAF deve servir a objetivos bem definidos. O clube precisa entender por que está fazendo essa transição e quais benefícios espera colher”. Sem essa clareza, o risco é alto: a estrutura empresarial pode afastar a torcida, comprometer a cultura do clube e até atrair investidores com interesses desalinhados com o esporte.
A especialista chama atenção para a diferença entre estratégia e burocracia. Ser SAF envolve mudanças significativas na governança, nas finanças e na relação com torcedores e patrocinadores. Há clubes que não estão preparados para essa virada, e outros que poderiam adotar soluções alternativas para seus desafios, mantendo-se como associação civil. Para ela, a decisão deve partir de um planejamento consistente e alinhado com a identidade do clube e com sua capacidade de gestão.
Muitos clubes que optaram pela SAF o fizeram em situação de emergência, buscando quitar dívidas impagáveis ou evitar rebaixamentos. Foi o caso de times tradicionais que passaram por reestruturações drásticas. Em alguns casos, os resultados foram positivos, com aumento de transparência, melhora na gestão e acesso a novos investimentos. Em outros, porém, o modelo foi adotado de forma apressada, gerando instabilidade e conflitos internos.
Outro ponto sensível está na relação com os investidores. Heloisa adverte que nem todos os aportes financeiros têm como objetivo fortalecer o clube. Alguns enxergam mais valor no patrimônio imobiliário do que no desempenho esportivo. Esse tipo de negociação pode comprometer a essência do futebol, transformando clubes em ativos financeiros, distantes da paixão popular.
Além disso, conselhos deliberativos extensos e estruturas políticas complexas dentro dos clubes também dificultam o processo de aprovação da SAF. Isso sem falar nos desafios de adaptação ao novo modelo, que exige uma cultura organizacional voltada para resultados, metas claras e responsabilidade fiscal — algo ainda distante da realidade de muitos clubes brasileiros.
Embora a SAF possa representar uma evolução importante para o futebol nacional, Heloisa Rios defende que o modelo deve ser tratado como um meio, e não como um fim em si. Para ela, clubes que adotam a SAF sem planejamento ou por modismo correm o risco de repetir erros do passado, agora sob uma nova roupagem corporativa.